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Literatura
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Introdução à Literatura

Denotação x Conotação

   Quando empregamos as palavras em seu sentido comum, com significação restrita, exata e precisa, temos o sentido denotativo. Quando as usamos em sentido figurado, diferente daquele que é comum, de modo criativo, artístico, expressivo, amplo, temos o sentido conotativo.

Ex:     No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra
                             (Carlos Drummond de Andrade)

Texto literário e Texto não-literário

Textos não-literários são aqueles que abordam seres e fatos reais, transmitindo informações sobre esses fatos e seres de forma objetiva e impessoal. Esse texto também pode ser chamado de utilitário.

   Textos literários são aqueles que abordam seres, pessoas e fatos que não existiam antes do texto ser escrito. Apresentando uma linguagem pessoal, trabalhada artisticamente, carregada de emoções e valores do eu lírico cria-se um mundo ficcional. Esse mundo pode apresentar semelhanças com o mundo real, mas o escritor não é obrigado a se prender a essa realidade. O poeta, muitas vezes, utiliza deste recurso para tornar seu texto crível, verossímil.

Características do texto Literário:

  • Plurissignificação
  • Ficcionalidade
  • Aspecto subjetivo
  • Ênfase na função poética da linguagem

Ex: Descuidar do lixo é sujeira

   Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência [de uma das filiais do McDonald’s] deposita na calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão.

                                             (Veja São Paulo,23-29/12/92)

 

                                   O Bicho

 

                           Vi ontem um bicho

                           Na imundície do pátio

                           Catando comida entre os detritos

 

                           Quando achava alguma coisa

                           Não examinava nem cheirava:

                           Engolia com voracidade.

 

                           O bicho não era um cão,

                           Não era um gato,

                           Não era um rato,

 

                           O bicho, meu Deus, era um homem.

                                                               (Manuel Bandeira)

 

Aspectos do texto ficcional

 Tipos de herói:

  • Herói Épico – é um ser invencível e tem como papel defender e proteger os fracos e oprimidos da humanidade; são dotados de grande força física e de disposição. Ex: Aquiles, Super-homem, etc.
  • Herói Moderno ou problemático – são seres que se sentem abaixo dos homens comuns. Moralmente abatidos, expondo suas contradições e fraqueza, este tipo de herói é resultante das situações conflito que caracterizam o mundo moderno. É o homem comum que reconhece as suas inseguranças em relação ao mundo, tornando-se um herói melancólico. Ex: Chaplin, Bentinho, etc.
  • Anti-herói – é o antagonista da obra, a quem são atribuídas características negativas. São apresentados de forma caricatural, com imperfeições no aspecto físico, moral e ético. É a desconstrução da imagem do herói clássico, pois o anti-herói é desprovido de caráter. Ex: Macunaíma, Pernalonga, Pica-pau.

 Aspectos do Texto Poético                   

  • Metrificação – decomposição (escansão) do verso em sílabas métricas. No processo de escansão, considere:

1º- a contagem apenas até a última sílaba tônica;

2º- duas vogais átonas de palavras diferentes se juntam em uma sílaba métrica.

Ex: 

Que o / meu / pei / to / me /dói / co /mo em / do  en / ça.

   1         2       3      4     5     6     7        8         9       10

 

   De acordo com a métrica, os versos recebem o nome de monossílabo, dissílabo, trissílabo, redondilha menor (ou pentassílabo), redondilha maior (ou heptassílabo), octossílabo, decassílabo (heroico), alexandrino (12 sílabas), bárbaro (14 sílabas). Há também os VERSOS LIVRES que apresentam liberdade de ritmos

  • Rima – podem ser alternadas (ou cruzadas – AABB), opostas (ou interpolares – ABBA), emparelhadas (AABBCC), pobres (quando rimam palavras de mesma classe gramatical – Ex: suspensa/imensa), ricas (quando rimam palavras de classes diferentes – Ex: tanto/encanto), raras ou preciosas (Ex: vence-a/sonolência) e versos brancos (aqueles que não apresentam rima).
  • Estrofe – é um conjunto de versos; de acordo com o número de versos, as estrofes podem receber a seguinte denominação: dístico, terceto, quarteto (ou quadra), quintilha, sextilha, sétima (ou setilha), oitava, nona, décima.
  • Formas fixas – as formas fixas são o soneto (forma que apresenta dois quartetos e dois tercetos), o rondó (composição poética que apresenta versos que se repetem como um refrão), balada (forma que apresenta três oitavas e uma quadra) e o haicai (forma poética que apresenta três versos apenas: um pentassílabo, um heptassílabo e outro pentassílabo)
  • Cavalgamento (enjambement) - quando a unidade sintática completa-se no verso seguinte.
  • Paralelismo – é a repetição de ideias e espressões aproximadas.

Gêneros Literários

 Gênero Lírico

   O gênero lírico é o texto onde há a manifestação de um eu lírico, esse expressa suas emoções, idéias, mundo interior ante o mundo exterior. São textos subjetivos, normalmente os pronomes e verbos estão em 1ª pessoa e a musicalidade das palavras é explorada. 

Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
          As flores que estão no canteiro
          Os pulsos e os punhos cortados
          E o resto do meu corpo inteiro.
                                                    (Titãs)

 Gênero Épico 

   Nos textos que pertencem ao gênero épico há a presença de um narrador que conta uma história que envolve terceiros.
   Os textos épicos narram a história de um povo ou de uma nação, geralmente são textos longos envolvendo viagens, guerras, aventuras, gestos heróicos e há exaltação de heróis e seus feitos.

Gênero Narrativo

   O gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto.
   Em qualquer das três modalidade acima, temos representações 

da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrato da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.
   As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção..

Romance : narração de um fato imaginário, mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou a ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, romance histórico, etc.

• Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de paginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais rápido e, o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de um fato passado.

• Conto: é a mais breve e simples narrativa, centrada em um episódio da vida. Na verdade, se comparado à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potência no seu espaço todas as possibilidades da ficção.

• Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição de moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo.


Gênero Dramático

   O gênero dramático expõe o conflito dos homens e seu mundo, as manifestações da miséria humana. Os textos que são produzidos com o intuito de serem dramatizados pertencem ao gênero dramático, assim, os atores fazem o papel das personagens.

   O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:

Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror".

• Comedia: á a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega esta ligada as festas populares, celebrando a fecundidade da natureza.

• Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.

• Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que critica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes).

Figuras de Linguagem

    São recursos que tornam mais expressivas as mensagens. Subdividem-se em figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de construção.

Figuras de palavras – apresenta sempre uma mudança, substituição ou transposição de sentido.


Metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.

Ex: “Meu pensamento é um rio subterrâneo.”

Comparação: apresenta elemento comparativo.

Ex: A vida é vã como a sombra que passa ...

Metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe:

Ex: Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa)

Catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro por empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado.

Ex: O pé da mesa estava quebrado.

Antonomásia ou Perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:

Ex: ...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles)

Sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

Ex: A luz crua da madrugada invadia meu quarto.

Figuras de pensamentosão processos expressivos por meio dos quais se introduz uma ideia diferente daquela que a palavra habitualmente exprime.

Antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.

Ex: “Os jardins têm vida e morte.”

Paradoxo: busca conciliar pensamentos contraditórios.

Ex: “Pranto por belos olhos derramado

      Incêndio em mares de água disfarçado,

      Rio de neve em fogo convertido.”

Ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico.

Ex: “A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”

Eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.

Ex: Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou)

Hipérbole: trata-se de exagerar uma idéia com finalidade enfática.

Ex: Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede)

Prosopopéia ou Personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.

Ex: O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

Gradação ou Clímax: é a apresentação de idéias em progressão crescente(clímax) ou decrescente (anticlímax).

Ex: “Um coração chagado de desejos
      Latejando, batendo, restrugindo.”

 

Figuras de construção – apresentam algum tipo de modificação na estrutura da oração. 

Aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais. 

Ex: “Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”

Assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.

Ex: “Sou um mulato nato no sentido lato
       mulato democrático do litoral.”

Elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.

Ex: “Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia)

Zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes.

Ex: Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)

Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.

Ex: “ E sob as ondas ritmadas
      e sob as nuvens e os ventos
      e sob as pontes e sob o sarcasmo
      e sob a gosma e sob o vômito (...)”

Assíndeto: omissão de conectivo.

Ex: Escrevia, lia, dormia, acordava, levantava-me, tornava a deitar.

Hipérbato ou Inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.

Ex: “De tudo ficou um pouco.
      Do meu medo. Do teu asco.”

Silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:

De gênero

Ex: Vossa Excelência está preocupado.

De número

Ex: Os Lusíadas glorificou nossa literatura.

De pessoa

Ex: “O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole  que se derrete na boca.”

Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra. Assim, parece que um termo fica sem função na frase. 

Ex: A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.

Pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.

Ex: “E rir meu riso e derramar meu pranto.”

Anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.

Ex: “Olha a voz que me resta

       Olha a vela que salta

       Olha a gota que falta

       Pro desfecho da festa

       Por favor”

Apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).

Ex: “Senhor Deus dos desgraçados!
       Dizei-me vós, Senhor Deus!”

Reiteração: repetição de vocábulo.

Ex: “Respondia que podia ser singela e na mesma hora

      Singela, singela, singela, comecei a repetir singela...”

Paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos.

Ex: “Eu que passo, penso e peço.